sexta-feira, 2 de julho de 2021

Liderança de acampamento em Itaguaí é presa


ITAGUAÍ - Um dos coordenadores do acampamento Refugiados 1º de Maio, ocupação no terreno da Petrobras que foi desapropriado nesta quinta-feira, Eric Vermelho foi preso por policiais da 50ª DP (Itaguaí) na manhã desta sexta-feira. Dezenas de pessoas que viviam no acampamento, montado há 2 meses, fazem uma manifestação na frente da delegacia onde ele está detido.

O grupo de pessoas canta louvores em apoio ao coordenador da ocupação. Após deixarem o terreno que ocupavam, as pessoas passaram a noite abrigadas no CIEP Francisco Mignone, em Itaguaí, para onde foram levadas durante a operação de ontem.

No acampamento Refugiados 1º de Maio viviam cerca de 4 mil pessoas entre assalariados, desempregados e aposentados.

Reintegração de posse de terreno

Cerca de 400 famílias ocupavam um terreno da Petrobras, em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio, no momento da reintegração de posse após decisão da Justiça. Os moradores do local - que viviam em barracas - resistiam em sair e agentes da Polícia Militar chegaram a usar bombas de gás lacrimogêneo e um caminhão blindado com água para dispersá-los nesta quinta-feira. O grupo, que se nomeou Refugiados 1º de Maio, ocupou o terreno desde a data de celebração do Dia Internacional dos Trabalhadores.

Quem morava no assentamento e não tem para onde ir foi levado para o CIEP 496 e a Escola Municipal Wilson Pedro, segundo o município. A Prefeitura de Itaguaí também fez o cadastro para encaminhar os moradores para abrigos.

Nesta sexta-feira, no entanto, manifestantes e ocupantes do acampamento afirmam que parte das pessoas passou a noite na rua e que no abrigo foi fornecida comida estragada. Na desapropriação, que teve confronto com a polícia e queima de vegetação seca em parte do terreno, muitos perderam documentos que estavam nas barracas. As centenas de famílias tiveram que desocupar o local às pressas desde o início da manhã.

A camelô Regina Célia, de 53 anos, diz que passou a noite depois da desapropriação na rodoviária.

— Eu bati no portão do Ciep e não me deixaram entrar. Fizeram meu cadastro, mas não me deram abrigo — conta, lembrando como foi viver no terreno para deixar as ruas. — Eu estava precisando de casa mesmo e fui para o acampamento.

Na porta da delegacia, os manifestantes afirmam que grupos de pessoas foram levados para bairros como Santa Cruz e Campo Grande sem destino a abrigos. Ontem, a prefeitura disponibilizou ônibus alugados para levar os que não queriam ficar no abrigo do Ciep.

O ajudante de pedreiro Roberto de Lima Lopes e o ambulante Igor Faria de Oliveira perderam documentos durante a reintegração de posse Foto: Isabela Aleixo / Agência O Globo

O ajudante de pedreiro Roberto de Lima Lopes, de 23 anos, está desempregado e vivia no acampamento desde o dia 2 de maio. Ele diz que soube da ocupação pelo tio, que também estava lá, e que ontem durante o cumprimento da reintegração de posse perdeu documentos.

— Perdi minha carteira de trabalho e minha identidade. Os documentos estavam dentro do barraco, eles já passaram levando tudo e jogando gás de pimenta — afirmou.

Igor Faria de Oliveira, de 23 anos, também afirma ter perdido documentos durante a ação da polícia pela desocupação do terreno. Ele vivia de aluguel com amigos antes de ir para o acampamento e trabalhava como ambulante.

— Perdi tudo. Mercadoria, roupa. Peguei essa roupa emprestada aqui. Identidade, CPF, certidão... Não tenho documento nenhum.

A manicure Glaucia Bruseiro passou a noite no CIEP com os filhos Yuri e João Gabriel, que se feriu durante a desocupação Foto: Isabela Aleixo / Agência O Globo

Vivendo no acampamento desde o dia primeiro com os dois filhos, a manicure Glaucia Bruseiro, de 30 anos, acordou durante a operação para a reintegração de posse. João Gabriel, de 12 anos, se machucou.

— A gente acordou assustado, não sabia o que estava acontecendo. Na correria a gente nem viu o que atingiu ele. Ele chegou sangrando, levou 8 pontos — conta Glaucia, que mora no local também com o filho Yuri, de 14 anos.

— Eu estava em casa, fiquei sabendo da ocupação porque eu morava de favor e fui para lá.

Ela e os dois meninos passaram a noite no Ciep.

— Deram colchonete para a gente ficar, mas não sabemos até quando vai ser isso. Eles não passam para a gente o que vão fazer, não dão informação.

Ana Paula Menezes de Oliveira, de 27 anos, estava no acampamento desde o primeiro dia.

Ela morava de aluguel, que estava com o pagamento atrasado há dois meses. Ela foi uma das que aceitou ir para o Ciep para passar a noite e afirma que foi oferecida comida estragada.

— Eles prometeram coisas que não cumpriram. Prometeram abrigo, alimentação. Deram comida azeda, prometeram kit de higiene e não chegou pra gente. Não deixaram pegar colchão nem cobertor. Eles forneceram (comida) sim, mas de forma covarde — destacou.

Em nota, a Prefeitura de Itaguaí diz que foi feito um pré-cadastro com 930 pessoas, das quais a maioria é oriunda de bairros limítrofes do Rio de Janeiro, como Santa Cruz e Campo Grande. Dessas, 350 foram acolhidas no CIEP 496 e na Escola Municipal Wilson Pedro e, até o momento, não houve cadastro para o aluguel social. Segundo o município, "foi constatado a princípio é que na maioria dos casos, existe moradia alugada e emprego de carteira assinada. A maior parte dessas pessoas alugaram seus imóveis para morar no assentamento.".

Via: Jornal Extra

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